segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O problema é de todos

A vida daquele rato de cor cinza e pêlos eriçados era muito boa.

A fazenda em que morava tinha de tudo que ele sempre sonhou; mas um dia, um choque.

Andando curiosamente, como sempre fazia, o rato descobriu uma ratoeira armada, escondida ardilosamente no caminho que ele costumava seguir diariamente.

Nervoso com a descoberta, ele não perdeu tempo, tinha que avisar aos amigos.

Logo chegou ao galinheiro e encontrou sua conhecida de tempos, uma grande e gorda galinha, que calmamente, chocando seus ovos ouviu a história do rato, e depois disse :

- Ora seu rato, isso não me preocupa, mas escute um conselho, tenha cuidado agora, ela foi posta para lhe capturar.

O rato ficou mais assustado ainda, e foi contar sobre a ratoeira ao porco. Este, que se banhava numa farta lama, depois de ouvir, piscou os olhos e disse :

- Sou muito grande, mas você é pequeno, cuidado, seu rato, sua vida corre perigo.

O rato pensou, pensou e pensou, então resolveu ir até a sua amiga vaca, queria lhe contar sobre a ratoeira.

- Uma ratoeira é pequenininha, não é ? Falou a vaca.

-É, mas armada, é um perigo para todos. Que faremos?

A vaca, despreocupada, disse:

- Seu rato, vá para casa, e tenha cuidado, uma ratoeira para o seu tamanho é mortal.

O rato cinza de pêlos eriçados, voltou triste e cuidadoso, seus amigos de nada lhe serviram, agora teria que ter um cuidado redobrado, quem sabe não haveria outras ratoeiras espalhadas pela fazenda.

Mas, durante aquela noite, a ratoeira disparou, pegando uma vítima. A mulher do fazendeiro correu e sem se perceber foi picada por uma cobra que estava presa, mas era venenosa.

Quando soube, o fazendeiro levou a esposa para o hospital e esta conseguiu sobreviver.

No outro dia, a mulher já voltava para casa, mas tinha muita febre e o médico receitou-lhe uma boa canja, então lá se foi a dona galinha para o forno e seus ovos para a geladeira.

Com a melhora da esposa, o que não faltava na fazenda era visitas, e o fazendeiro resolveu matar o porco, para fazer um bom torresmo e ter uma carne boa para servir aos amigos visitantes.

Foi o fim do seu porco.

Com duas semanas a esposa do fazendeiro estava de novo boa, e para comemorar, de tão feliz que estava, resolveu dar uma grande festa.

Foi a vez da vaca, que serviu bem como assado de festejo.

Quanto ao rato cinza de pêlos eriçados, este continuou na fazenda, sentia falta dos amigos, pensava neles com saudades, mas estava alegre, pois a partir daquela data, o fazendeiro nunca mais quis pôr na fazenda ratoeira alguma.

Bérgson Frota
Escritor

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