terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Parabéns São Paulo, 456 anos

Cláudio Lembo De São Paulo (SP)

É piegas. Inevitável, no entanto. Hoje, é o dia comemorativo da fundação de São Paulo. Deixar de concretizar uma referência à Cidade, nesta data, no mínimo é covardia cívica.

Não há covardes nesta cidade, por isto o registro dos 456 anos de vida desta metrópole é mais que o oportuno. É dever. A sua história é recortada por episódios marcante.

Instalada em 1554, torna-se vila já em 1560 por iniciativa de Mem de Sá, governador geral da colônia. Apresenta-se, pois, como um dos primeiros povoados, distante da orla atlântica, a receber a condição de vila.

Estrutura-se, a partir de então, como núcleo político e com ideias próprias e muito nítidas. Os paulistas nunca deram importância ao luxo. Suas casas eram simples e despojadas.

Esta simplicidade tornou-os pouco afeitos às formas de convívio próprias das cortes. Tudo direto. Incisivo. Sem preocupações com filigranas sociais. O paulista era um rude.

Esta rudez o levou, em momento posterior, a se lançar em entradas e bandeiras, coletivos de pessoas, que ingressavam nas matas e navegavam os rios por toda a parte deste imenso Brasil.

Na busca de riquezas - ouro ou índios para escravizar - rompeu condicionantes impostas pelos sacerdotes da Companhia de Jesus e se lançou o paulista em caminhadas pelos sertões sem precedentes.

Esta aventura causou dissabores e operou violências. Foram os paulistas, porém, que romperam tratados europeus e fixaram os limites atuais do País.

Ao caminharem por toda a parte, abriram novos espaços para os brasileiros e agiram contra o colonizador com denodo e destemor. Morreram. Não se acovardaram.

Lutaram sempre. Apoiaram a independência do Brasil, sem titubeios, o que levou D.Pedro I a chamá-los de "leais paulistas". Esta lealdade paulista levou ao Imperador a admirar e amar uma paulista.

Domitila de Castro Canto e Melo conheceu o Imperador logo após a proclamação da independência, às margens do Córrego do Ipiranga, quando o Brasil tornou-se livre do domínio português.

Foi no Centro Histórico de São Paulo, no Páteo do Colégio. Domitília, ao se ligar a Pedro I, teve grande presença nos bastidores políticos do novo Império. Influenciou os atos mais importantes do novo Estado Nacional.

Entre estes, acompanhando os acontecimentos iniciais da vida pública brasileira, pode-se arrolar, por meio da intuição suportada em fatos, a criação das faculdades de Direito de São Paulo e Olinda.

Domitila, em virtude de um grande número de coincidências, parece ter levado o Imperador a conceder a São Paulo sua escola jurídica. A cidade era tão pobre e singela que, só mediante um forte impulso, isto poderia acontecer.

É tema que deverá merecer melhor análise dos historiadores. Fica aqui o registro da importância desta paulista. Aliás, a mulher paulista, em virtude das bandeiras, é dotada de têmpera exemplar. Os homens avançavam para o sertão. Elas permaneciam à frente das roças e do comércio.

Mas, São Paulo, a cidade pobre, a partir de 1827, núcleo de estudantes e de muita boemia, passa a se desenvolver graças ao café. Chegaram então os estrangeiros, especialmente italianos, espanhóis e portugueses.

Depois vieram múltiplas etnias e com elas a industrialização. A crise de 1929, dramática para os fazendeiros de café, foi benéfica para os imigrantes. Libertaram-se da servidão do colonato.

Livres, como velhos artesões que eram, iniciaram a industrialização da cidade e do Estado. Foi um ciclo típico de todas as revoluções industriais. Amargor, miséria e patronato insensível.

Daí surgiu os grandes movimentos sindicais. As greves sem fim. As lutas entre a população civil e as forças de segurança. Anos difíceis, profundamente significativos, no entanto.

Os anarquistas e os socialistas abriram janelas para a realidade social. Ela teve de ser compreendida pelos senhores de terras e de máquinas. As leis sociais, paulatinamente, foram conquistadas.

Muitos anos depois, chegaram os nordestinos com sua denodada vontade de vencer e sair da pobreza endêmica. Conseguiram, as duras penas, o seu espaço. Chegaram à Presidência da República.

Agora, novas ondas de latino-americanos aportam à cidade. Lutam e sofrem. Conquistam avanços. São Paulo é assim. Jamais se mantém estática. Cai e se levanta. Avança e constrói.

Os brasileiros podem confiar em São Paulo. Ela será sempre pioneira dos grandes movimentos sociais. É da sua índole inquieta e sem temores.

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